quarta-feira, 6 de julho de 2011

'. pra sempre, bye bye .'



“Durante dias a fio faltou-me mera vontade e capacidade de escrever, esboçar e simbolizar em letras algo que o pensamento sequer tem capacidade de traduzir.”

Certa vez, em um dia que para mim era comum como qualquer outro, eu li essa frase no blog da Marina Fráguas em um texto maravilhoso, apesar das circunstâncias.

E hoje, mais do que nunca, eu me identifico muito com essa sábia citação, salvo o fato de que eu passei pelo menos as últimas duas horas olhando pra esse pedaço de papel sem ter sequer uma gota de coragem para me arriscar a rabiscar umas poucas palavras.

Pode até soar estranho, mas hoje eu não vim aqui pra criticar nada nem ninguém, ou quem dirá para expressar meu ponto de vista em relação a alguma coisa como quase sempre eu tenho o hábito de fazer em minhas postagens.

Hoje eu resolvo largar tudo isso pra lá e deixo de lado todas as minhas críticas e meus diversos pontos de vista. Venho aqui escrever como uma forma de desabafo, pois talvez assim eu consiga diminuir a ferida que foi aberta em minha família pela perda de minha avó.

Era uma madrugada fria de sexta-feira. Eu estava em casa já dormindo, descansando para me levantar dali a poucas horas para enfrentar mais um dia de trabalho. Acordei assustado com minha mãe fazendo barulho no meu quarto enquanto se arrumava para levar minha avó ao hospital, visto que ela havia tido uma recaída muito forte de saúde nos últimos dias, devido a alguns problemas respiratórios que acabaram se complicando com a chegada do inverno.

Minha mãe saiu muito rápido de casa, e eu, ainda meio atordoado pelo sono e pelo cansaço acabei ficando para trás. Relutei por alguns instantes em segui-la, porque tenho certa “aversão” ao clima pesado que o ambiente hospitalar nos expõe, mas acabei sendo impulsionado a ir até lá pelos meus próprios pensamentos.

Me arrumei, entrei no carro, saí de casa e em poucos minutos lá estava eu, dentro do hospital assistindo à minha avó travar uma batalha pela vida. Permaneci ali por alguns instantes, imóvel, com o coração acelerado, batendo forte, sem conseguir distinguir seja lá o que fosse que eu estivesse sentindo naquele momento.

Passaram-se alguns minutos, minha mãe, preocupada, cuidadosa, insistindo para que eu fosse embora, pois dali a algumas horas eu teria que partir para o trabalho. Consenti em seguir seus conselhos, entrei novamente no quarto para me despedir da Vovó. Ela tocou minhas mãos, sorriu de uma forma que eu nunca havia visto e me abençoou sussurrando: “DEUS te abençoe, meu filho!”; e então eu a deixei; aos cuidados do médico e das enfermeiras e junto com minha amada mãe que como sempre, tentava se mostrar forte e otimista, apesar de carregar a angústia e a dor estampadas em seu rosto.

Virei-me de costas e saí andando apressado, meio confuso, hesitando entre ir embora ou ficar, e acabei assustado ao perceber que em um simples minuto eu já me encontrava no estacionamento do hospital, dentro do carro com o motor ligado, pronto para partir.

E no caminho de volta pra casa, tocou uma música no som do carro enquanto eu pensava em algumas coisas que têm acontecido na minha vida... Mal percorri 200 metros e me veio uma vontade súbita de chorar, um aperto enorme no coração, e juntou tudo na minha cabeça, justamente por saber que talvez aquela fosse a minha última oportunidade de ver a minha avó viva e de ter trocado algumas palavras com ela. Comecei a pensar em tudo que tem acontecido comigo nesses últimos tempos, em todas as pessoas que estão, ou que estiveram à minha volta no decorrer desses anos, no que representam, ou representaram pra mim... E comecei a pensar em tudo que aconteceu, ou que tem acontecido com todas essas pessoas, por suas naturezas e pela vida que levam e talvez até mesmo por minha culpa, ou não. E então essa música começou a tocar novamente em minha cabeça, e me fez pensar em tudo que passamos nessa nossa vida, e no que, quem sabe, ainda vamos passar, e no porquê disso tudo... Se é que realmente um dia saberemos o porquê...

Parei o carro em meio à rua vazia, encoberta pela névoa fria e densa da madrugada e me desliguei do mundo, submerso por alguns instantes nas frases ditas pelo Guilherme de Sá, antes de iniciar a canção “Menos de Um Segundo” da banda Rosa de Saron:

“hoje, nesse momento nós estamos de pé... mas bastam instantes pra que a gente deite e nunca mais acorde, e nunca mais se levante, e cara... todos os nossos sonhos, todas as nossas vontades, todas as nossas virtudes, tudo que a gente é, todas as pessoas que a gente ama se vão... às vezes em muito menos de um segundo”.

De fato, passaram-se algumas horas e ela partiu... “Descansou”; como costumamos dizer. Despediu-se da vida sorrindo, levando a certeza de que cumprira sua missão. Deixou aqui conosco apenas a saudade que permanecerá eternamente e as lembranças dos bons momentos, das boas conversas que tivemos e das lições que aprendi a valorizar vendo a forma extraordinária como ela, mãe, avó, conduzira a construção da nossa família entre tantas as dificuldades vividas.

Se foi, mas ficará pra sempre em minha memória, como exemplo de força, perseverança e Fé; exemplos estes que eu vejo herdados pela minha mãe, traduzidos em compaixão e amor pelo próximo. Levarei sempre comigo as recordações para me lembrar em todos os dias da minha vida a importância de buscar aquilo que se acredita e nunca perder a esperança.

Hoje, eu posso afirmar que quanto mais o tempo passa, mais eu carrego a certeza de que é preciso agarrar a vida com unhas e dentes, para que ela não nos deixe para trás; é preciso viver com intensidade, tirando o máximo de proveito das oportunidades que DEUS nos proporciona ter. É preciso amar mais às pessoas, reconhecer delas as virtudes e aprender a não criticar os defeitos, pois afinal, defeitos todo mundo tem, por menores que eles sejam.

Aproveite bem a sua vida, não desperdice as chances que tiver e experimente amar ao próximo como a si mesmo!

Por experiência própria, eu lhes digo: É o que há...

Um forte abraço, fiquem na PAZ! :)